A New Capitain
Um
Novo Capitão
—
Espero que você não esteja de ressaca, garoto. —
Disse Maximillian, sorrindo para Tristan ao acordá-lo.
—
Eu... — Tristan se
levantou tonto, olhando para o lugar a sua volta. As paredes do lugar eram
feitas de pedras cinzentas, mas a decoração certamente era luxuosa. Haviam
várias camas cobertas com lençóis finos vermelhos com detalhes em dourado. O
tapete que se estendia pelo chão do cômodo seguia o mesmo padrão dos lençóis da
cama. Havia espadas decorativas nas paredes, bem como o estandarte da Luz: uma
cabeça de grifo branco olhando para frente, com o fundo azul claro, fazendo com
que os olhos da criatura tivessem a mesma cor do fundo. — Onde é que eu estou?
—
No quarto de visitas do palácio do Duque.
—
Como!? — Tristan
saltou da cama, quase caindo. Seus olhos estavam arregalados.
—
Acalme-se, garoto. —
Maximillian riu. —
Chegamos a White Plains ontem a noite e alguns dos soldados resolveram
comemorar numa taverna aqui perto. Aparentemente, eles te convenceram a se
juntar a eles. Pelo o que eu estou vendo agora, você não agüenta bem álcool.
—
Ah... — O rosto de
Tristan corou um pouco. —
Espero não ter feito nada muito embaraçoso ontem.
—
Não que eu saiba. Mas bem...continuando. Eu estava fazendo o relatório da
missão para o Duque, não se esquecendo de mencionar seus feitos heróicos em
campo de batalha quando, de repente, alguns de meus soldados chegaram
carregando ninguém mais, ninguém menos que você.
—Como!?!?
— O rosto de Tristan
estava ainda mais corado. —
E isso não se adéqua a categoria: “embaraçoso”?
—
Acho que não. O Duque até sorriu ao ver seu valoroso guerreiro entrando em sua
sala do trono...mesmo que inconsciente e fedendo a todos os tipos de bebidas
imagináveis. — O
general riu.
“Que ótima primeira impressão...”.
—
Bem...posso afirmar que ele gostou de você. —
Disse Maximillian, sorrindo. —
E isso me traz ao motivo de minha presença nesse quarto: o Duque gostaria de
vê-lo o quanto antes.
—
Obrigado. — Tristan
olhou para si mesmo, reparando nas vestimentas que usava. Eram feitas de tecido
roxo com detalhes prateados sob uma jaqueta de pele de raposa branca. Suas
botas eram feitas de couro de ótima qualidade. —
Quando foi que eu me vesti assim...?
—
O Duque ordenou que algumas de suas serviçais tirassem suas roupas, o banhassem
e o vestissem com essas roupas.
—
COMO!?!? — O rosto de
Tristan estava quase tão vermelho quanto os tapetes do quarto.
—
Qual o problema? O Duque queria adiantar essa parte para que quando você
acordasse, você pudesse falar com ele o mais cedo possível. — Maximillian sorriu
maliciosamente. — Não
sabia que o maior guerreiro dessa região, aquele que derrama o sangue de seus
inimigos com um sorriso no rosto, era tão...puritano e tímido. — O general riu.
—
Quieto. — Ordenou
Tristan, com o rosto vermelho tanto pela vergonha dos acontecimentos de ontem à
noite, tanto pela leve irritação gerada pelo general.
—
No seu lugar, eu estaria preocupado com outras coisas, como “onde eu deixei
minha armadura, espada e escudo?”.
“Ótimo.
Que dia maravilhoso”.
—
Não vai falar nada? —
Perguntou Maximillian, sorrindo de maneira quase imbecil.
—
Do que adianta? —
Disse Tristan, resignado. — Depois
eu me preocupo com isso. Agora tenho que me encontrar com o Duque, certo?
Maximillian assentiu com a cabeça e, então, guiou o
companheiro pelos corredores do castelo. O lugar seguia o mesmo padrão do
quarto em relação à decoração: os tapetes eram vermelhos, as paredes cinzentas
com estandartes de grifos e algumas armas expostas. Ao passar por perto de uma
porta, sentiu o aroma de carne de javali assada, tortas de maçã e ensopados de
legumes. A barriga de Tristan roncou.
“Aparentemente, eu bebi como nunca antes e acabei me
esquecendo de comer alguma coisa”.
Maximillian olhou para ele, sorrindo.
—
Hoje, você terá a melhor refeição da sua vida, garoto! Mas antes, vamos ser
educados e falar com o dono do lugar, sim?
Tristan assentiu. Os dois seguiram até um portão guardado
por dois guerreiros armados com lanças.
—
Esse aqui é o nosso guerreiro prodígio, pronto para falar com o Duque.
—
Sim...ouvimos falar de seus feitos. —
Disse o guarda da direita. Ele se virou para o outro guarda. — Não é?
—
Mas é claro que sim! —
Respondeu o guarda da esquerda. —
Principalmente sobre o de ontem à noite. Como eu queria ter visto com meus
próprios olhos!
Os dois guardas começaram a rir.
“Sou motivo de piada para qualquer um, aparentemente”.
—
Se vocês já pararam de rir, nos deixem passar. —
Disse Maximillian, sério.
“Pelo menos alguém continua do meu lado...mesmo que esse
alguém tire sarro de mim também”.
Os guardas abriram o portão, possibilitando que eles
pudessem ver a sala do trono.
“Nossa!”.
A sala era enorme. O aroma de lavanda tomava conta do ar
(provavelmente, por influência da Duquesa). As paredes cinzentas persistiam,
mas os estandartes de grifos ficavam em segundo plano em relação às outras
peças decorativas, como o as pinturas feitas como presente ao Duque, retratando
as ruas da cidade, as planícies da região e até o Lorde da Luz, Leviathan, em
uma armadura de guerra completamente branca e reluzente.
“Não posso afirmar que aquele é o Lorde da Luz, mas pela
fidelidade do Duque a ele e ao visual triunfante e heroico do guerreiro no
quadro...acho que aquele é o Leviathan”.
No fundo da sala, havia dois tronos juntos, com um trio
de guardas em cada lado. No trono da esquerda, o mais simples, havia uma mulher
sentada. Seu vestido era verde com detalhes dourados. Havia uma pele de lobo
prateada sobre seus ombros. Nos seus pés, sapatilhas vermelhas tão delicadas
que pareciam feitas de vidro. No seu pescoço, um colar de ouro. Seu rosto era
jovem, com uma expressão calorosa intensificada pelos olhos cor de mel e um
sorriso quase tão branco quanto a armadura de Leviathan na pintura. Seus
cabelos castanhos eram trançados e, sobre eles, havia uma coroa dourada com um
rubi no meio. Ao seu lado, sentado no trono mais imponente, estava um homem.
Ele trajava uma armadura por baixo das vestes, uma vez que se podia ver claramente
as botas e manoplas feitas de aço. Sua vestimenta era verde como da mulher, com
a adição de uma capa roxa sobre seus ombros. Usava um cinturão dourado com um
grande rubi, combinando com a coroa delicada da mulher e com a própria coroa
que usava sobre a cabeleira ruiva. Seu rosto era sério e parecia por si só
impor respeito. Seus olhos eram negros como ônix e sua barba vermelha era longa
e cheia.
“Então, esses são os governantes de White Plains”.
—
Aproxime-se, guerreiro Tristan. —
Ordenou o Duque. Poderia ter sido um singelo pedido, mas a voz profunda
e grave do Duque fez com que sua fala se transformasse em ordem.
Tristan seguiu até os pés dos tronos e ajoelhou-se. Ao
olhar para o Duque, sua expressão demonstrava certa confusão. Ele coçou o queixo
debaixo da barba. Seus dedos quase sumiam sob o mar rubro. O governante se
levantou.
—
Acho que não entendi seu gesto. Eu apenas pedi para que você se aproximasse,
não para que se ajoelhasse. Eu sei que você respeita seu governante. Não é
necessário se submeter e rebaixar a ninguém. —
Wallace levantou-se e estendeu sua mão a Tristan. — Levante-se.
Tristan hesitou por um segundo. Então, apertou a mão do
Duque e foi puxado para cima pelo governante.
—
Agora sim, muito melhor. —
O Duque sorriu e voltou a se sentar em seu trono. — Agora, vamos falar do que realmente importa.
— Ele apontou para
trás, na direção de Maximillian. —
Seu amigo ali andou falando muito bem de você. Disse que você mostrou ser, sem
dúvida, o melhor guerreiro na batalha de ontem. Aliás, não só ontem, mas como
também em várias outras oportunidades. O que você tem a dizer sobre isso?
Tristan corou um pouco, mas então sorriu.
—
Sinto que devo posso ser totalmente honesto com você, Wallace.
Murmúrios começaram entre os guardas, mas tanto o Duque
tanto a Duquesa pareciam satisfeitos com a maneira com que Tristan se dirigia
ao governante.
—
Então seja. — Disse o
Duque.
—
Meu pai me era um nômade, um aventureiro. Ele viajou para pelo menos uma cidade
de cada reino conhecido por nós, ousando ir até para as Terras do Leste e as
infames Terras do Norte. Ele aprendeu muito, sobre muitas coisas. Aprendeu
desde o idioma deles até sua cultura e, talvez o mais útil: suas técnicas para
luta. Ele aprendeu a lutar usando diversos tipos de armas, usando os mais
variados estilos. Ele também aprendeu algumas formas de luta desarmada. Um dia,
viajando por esse continente, ele conheceu uma mulher que trabalhava na pousada
onde ele passou a noite. Eles se apaixonaram com o tempo. Ele não viajou mais.
Ele não queria se separar dela. Um ano depois, eu nasci. Minha mãe sempre teve
um fascínio pelas aventuras de meu pai e, com o tempo, eu também fui cativado.
À medida que crescia, meu pai me ensinava sobre o que ele aprendera,
principalmente sobre os estilos de luta. Se eu sou o grande guerreiro que
acredito que sou, é por causa de meu pai.
—
Entendo. — O Duque
coçou o queixo de novo, com uma expressão pensativa nos olhos. — Ótimo, já tomei minha
decisão.
—
E...qual seria? —
Perguntou Tristan.
—Você
terá mais responsabilidades agora, jovenzinho. —
O governante sorriu. —
Você liderará missões agora, já que você agora é oficialmente um Capitão.
“Eu...o que...?”
Tristan quase não acreditava no que tinha ouvido. Todos
começaram a aplaudi-lo. Maximillian, os guardas, o Duque e a Duquesa, todos
batiam palmas.
—
Parabéns. — A Duquesa
disse. A voz dela era tão suave que chegava a ser calmante. —Você fez por merecer.
—
Esse é meu garoto! —
Disse Maximillian, quase gritando. Ele parecia mais animado que o próprio
Tristan com a notícia.
Tristan se aproximou do amigo.
—
Obrigado, velho. —
Tristan riu e o abraçou.
Quando estavam quase saindo da sala, o Duque se levantou.
—
Espero que esteja preparado para os trabalhos que estão por vir!
Tristan sorriu.
—
Pode apostar que estarei. —
Após dizer isso, Tristan saiu da sala juntamente com Maximillian.
—
Bem...eu tenho que organizar agora as próximas missões. — Disse Maximillian. — Aproveite o dia de folga, porque amanhã você
poderá receber sua primeira missão como Capitão.
—
Assim espero. — Disse
Tristan. Com um aperto de mão, despediu-se do amigo. Cada um seguiu por
caminhos diferentes dentro do castelo.
Seguindo o corredor, viu três guerreiros se aproximando.
“Ótimo, Capitães. Agora faço parte do clube. Só não
acredito que o Frederick faça parte do mesmo clube que eu...”.
—
Tristan. — Disse
Frederick, o capitão que estava no meio, com sua voz ligeiramente aguda e
arranhada. Ele usava uma armadura prateada com uma capa azul escura. Em
contraste com sua armadura de visual quase ordinário, a máscara era um tanto
quanto exótica: tinha o formato de uma caveira esculpida em seu elmo, com seus
dentes caninos longos e curvados. Na sua cintura, um florete estava guardado ao
lado de sua perna esquerda. —
O que um verme como você faz aqui, perambulando pelo castelo, tão próximo da
sala do trono?
—
Recebendo minha promoção. —
Respondeu Tristan, simplesmente.
—
Como assim? —
Perguntou Frederick. Sua voz soava ainda mais irritante agora.
—
Nada...eu só sou o novo Capitão do exército de Maximillian.
—
Como!?
—Parabéns,
Tristan! — Disse
Edward, o capitão que estava à direita de Frederick. Ele usava uma capa
vermelha e carregava uma lança nas costas.
—
Bem vindo ao clube, Tristan! —
Disse Eric, o terceiro capitão. Ele carregava uma machado e um escudo e sua capa
era de cor violeta.
—
Ótimo...parece que qualquer pode ser um capitão agora.— Disse Frederick, suspirando.
—
Então talvez você devesse arrumar um cargo melhor, não? — Disse Tristan desafiador. — Mas ambos sabemos que
você não conseguiria.
Edward e Eric riram. Frederick bufou e seguiu seu caminho
rumo à sala do trono.
—
Acabamos de retornar da missão para conquistar o povo que endeusava o Lorde do
Fogo. — Disse Eric. — Aposto que você e o
general Maximillian se divertiram com os endeusadores do Lorde do Gelo.
—
Até que foi, sim. —
Respondeu Tristan.
—
Sorte que nenhum deles sabia usar magia. —
Lembrou Edward.
—
Verdade. — Disse
Tristan. — Poucos
seguidores de deuses pagãos sobreviveram.
—
Bem como os próprios deuses. —
Ressaltou Eric.
—
Sim. — Concordou Edward.
— Bem...acho que nós
devemos acompanhar o Frederick no relatório da missão.
—
Não podemos deixá-lo ficar com toda glória. —
Disse Eric, rindo.
Eles se despediram e Tristan seguiu o corredor.
Ao sair do castelo, Tristan viu que havia soldados
trazendo escravos para o local.
“Olha só...os nobres que prendemos no forte anteontem.
Agora eles serão escravos ou serão mortos. Que triste. E...ali deve ser o grupo
que foi preso pelo grupo dos três Capitães. Nossa...”.
O grupo de nobres tinha uma integrante que chamou a
atenção de Tristan. Era uma mulher jovem, talvez da idade dele. Sua pele era
branca como marfim. Seus olhos eram brilhantes safiras. O seu olhar parecia
perdido, mas isso não diminuía sua beleza. Seus cabelos pareciam um mar re
rosas rubras. Seu rosto era simplesmente lindo. Delicado, com lábios levemente
rosados como pérolas. O olhar dos dois se encontrou. Ela sorriu e, apesar do
olhar triste, ela pareceu ainda mais linda. Ele sorriu de volta. Os soldados a
levaram junto com os outros nobres para dentro do castelo.
“Bem...sorte minha que eu estarei visitando o castelo
mais vezes agora”.
Tristan sorriu e seguiu para sua casa.
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